Farto de ouvir expressões e adjectivações “radicais”, pergunto-me se será possível alguém colocar-se entre os extremos sem ser amorfo, vazio de convicções e cheio de ganância.
De um lado estão os mentirosos, considerados “ponderados e responsáveis”, que à força de tanto repetirem um discurso (porque têm espaço mediático e poder económico e político para o fazer) convencem qualquer incauto que queira ser convencido, isto é qualquer “português médio”.
É uma elementar regra de Marketing: nunca ninguém vende nada a alguém que não queira comprar. Embora os vendedores da banha da cobra ainda achem que é graças às suas capacidades que conseguiriam vender frigoríficos aos esquimós no Pólo Norte. A realidade diz-nos que isso só acontece porque esses esquimós quereriam ter o mesmo aparelho que qualquer povo civilizado tem nas suas cozinhas.
Do outro lado temos os realistas, apelidados de “radicais”, tão só porque acreditam que a realidade não está entregue a uma qualquer ordem universal suprema que tratará de endireitar as crises de tempos a tempos, deixando que os terrestres se preocupem apenas com as coisas que consideram "verdadeiramente importantes" (coisas essas que são, aliás, comuns a todos os seres vivos, desde os mamíferos aos invertebrados, passando pelas plantas e pelos fungos)…
Acreditam, alguns desses “radicais”, verdadeiras ovelhas tresmalhadas, que têm de ser elas a fazer alguma coisa em conjunto pelo mundo, a começar por quem está mais perto, com os olhos sempre, sempre no futuro. Essas tresmalhadas (que aliás de ovelhas têm muito pouco, pois não gostam de seguir os passos dos outros só porque sim) têm também uma característica estranhamente rara - empatia. Procurando uma definição (está tão crescida a Wikipedia, não está?) lemos que esta «consiste em perceber corretamente o marco de referência interno do outro com os significados e componentes emocionais que contém, como se fosse a outra pessoa». E como a lucidez é absolutamente fundamental para definir uma pessoa e a sua inteligência, a definição continua com «colocar-se no lugar do outro, porém sem perder nunca essa condição de “como se”».
Através do conhecimento e da experiência tenta-se chegar à sabedoria. E essa passa, tantas vezes, por reconhecer as limitações próprias (tramadas) e as características dos que nos rodeiam. Como se pode aspirar à sabedoria sem lucidez e sem empatia (logo, sofrimento) é que eu não sei mesmo…